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Equipe de Flávio Dino recebeu “Dama do tráfico” no Ministério da Justiça

Luciene Barbosa em agenda no Ministério da Justiça — Foto: Reprodução

Assessores do ministro “vingador” Flávio Dino, do ministério da Justiça, receberam pelo menos duas vezes neste ano, Luciana Barbosa Farias, conhecida como a “dama do tráfico amazonense”, segundo informações. 

Ela pertence ao Comando Vermelho e esteve em audiência com dois secretários e dois diretores ligados diretamente ao ministro Dino. O nome dela, contudo, foi omitido dessas agendas oficiais. As informações são do jornal Estado de S. Paulo. 

O Ministério da Justiça em uma publicação se referiu a Luciana como “cidadã” enquanto esteve com os secretários de Flávio Dino. Contudo, o ministério alega que é “impossível” que o setor de inteligência pudesse detectar a presença da traficante. 

As agendas públicas de autoridades, contudo, costumam trazer informações sobre os participantes das reuniões, e não somente da pessoa que solicitou a agenda. Isso coloca, com certeza, os servidores do local em risco. 

Crueldade é a marca do grupo criminoso que faz parte Luciana. Ela é a esposa de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, considerado o criminoso “número um” da lista de procurados pela Polícia do Estado do Amazonas, mas que foi preso em dezembro do ano passado. 

O casal que está juntos há 11 anos, foram condenados em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. Tio Patinhas cumpre 31 anos no presídio de Tefé (AM). Luciane foi recebeu pena de dez anos, mas recorre em liberdade – tanto que conseguiu com esta liberdade visitar o Ministério da Justiça. 

“Tio Patinhas” é conhecido pela crueldade em que trata os seus inimigos e pessoas que lhe traem no meio do tráfico, segundo investigações do Ministério Público amazonense. 

Em abril de 2019, após seu assassinato em Manaus, a polícia encontrou um homem com um cartaz no rosto: “devia Tio Patinhas”. Em um ataque a um motel, um homem foi morto com tiro na cabeça e outro ficou ferido, ambos vítima de execução ordenada pelo bandido. Tio Patinhas também já divulgou fotografia segurando uma metralhadora de artilharia antiaérea calibre .30. A arma tem capacidade de abater aeronaves e atravessar veículos blindados.

O Ministério Público do Amazonas aponta que Luciane, além de “dama do tráfico” é o “braço financeiro” da operação do marido. “Exercia papel fundamental também na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ‘empresas laranjas’”. Por seu trabalho, ela “conquistou confiabilidade da cúpula da Organização Criminosa ‘Comando Vermelho’”, afirma a acusação.

No Amazonas, Tio Patinhas tem a “fama de indivíduo de altíssima periculosidade, com desprezo à vida alheia”. O Ministério Público alega que ele possui poder econômico advindo do tráfico de drogas e é extremamente cruel com seus devedores, “ceifando-lhes a vida sempre que os crimes em que se envolve lhes torna credor”, de acordo com um trecho da denúncia do procurador Mário Ypiranga Monteiro Neto, de agosto de 2018.

Braço financeiro

Luciane é acusada de ser o braço financeiro do grupo e desde 2012, está com o atual marido Tio Patinhas. Na época, ela mantinha um salão de beleza, onde de acordo com investigações do MP, era lavado o dinheiro do tráfico. Na declaração de Imposto de Renda em 2016, eles apresentavam um patrimônio de R$ 30 mil. No ano seguinte, o patrimônio passou para R$ 346 mil, uma alta de 1.053%. Eles também seriam donos de três imóveis no Amazonas e em Pernambuco, além de seus veículos, sendo uma moto, três carros e dois caminhões. 

Ong de fachada

De acordo com a Polícia Civil do Amazonas, a Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), ONG criada por Luciane Barbosa Farias, é apenas uma fachada usada pelo Comando Vermelho para “perpetuar a existência da facção criminosa e obter capital político para negociações com o Estado”.

Em um trecho de uma investigação sigilosa obtida pelo Estadão, aparece a informação de que as ações sociais feitas pela entidade seriam, ao fim, sustentadas pelo Comando Vermelho “com a arrecadação de seus membros”.

A chamada “Dama do Tráfico” costuma circular por Brasília ao lado da advogada Camila Guimarães de Lima e de uma amiga conhecida no mundo político: a ex-deputada estadual pelo PSOL Janira Rocha (RJ). A Justiça condenou Janira em 2021 por fazer “rachadinha” com os salários de seus assessores na Assembleia Legislativa do Rio (ALERJ). Ela voltou aos holofotes recentemente ao assumir a defesa da ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza. Flordelis recebeu condenação no ano passado pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo. Janira participou, ao lado de Luciane, da assembleia de criação do Instituto Liberdade do Amazonas.

Nota do Ministério da Justiça

O Ministério da Justiça enviou a seguinte nota ao Estadão, reproduzida abaixo na íntegra:

“No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da ANACRIM (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas.

A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.

Por não se tratar de assunto da pasta, a ANACRIM, que solicitou a agenda, foi orientada a pedir reunião na Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).

A agenda na Senappen e da ANACRIM aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da ANACRIM.

Não houve qualquer outro andamento do tema.

Sobre atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidades de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota.

Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais”.

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